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Sobre cultura italiana, roupas, chinelos e mudanças.

Por que viajamos? Por que desbravamos o além-mar? Por que vamos para a Itália?

Eu sempre me lembro de algumas histórias que, quando foram contadas para mim, me chocaram e me deixaram completamente indignada.

Sobre a Itália e “coisas velhas”.

Uma dessas histórias me foi contada por uma pessoa da minha família que teve a ocasião de ir para a Itália há muitos anos, quando eu nem sonhava em ser professora de italiano. Essa pessoa foi para Milano, Roma, Verona, Venezia e várias outras cidades; ela visitou os museus mais importantes, comeu em ótimos restaurantes. E o que ela trouxe de mais importante dessa experiência toda? Nada. Nadinha.

Como assim?

Desde quando eu decidi cursar Letras-Italiano e me enveredar pela Itália, essa pessoa só me falava coisas do tipo: “mas por que você quer ir num país que só tem coisa velha? Por que você não vai para os EUA? Lá que é bom, é onde dá pra fazer compras. Ah, os italianos não sabem nem falar outra língua, tudo sem educação”.

Tudo bem não gostar da Itália, tudo bem não ter gostado da experiência num país “cheio de coisas velhas” e tudo bem ter preferência para um lugar mais moderno, mas o que eu não via sentido ali era no tom de desprezo por essas “coisas velhas”.

Chinelos em Pisa.

Essa reflexão ressurgiu esses dias em uma aula com uma aluna. Ela veio me contar que havia assistindo um vídeo no YouTube sobre uma escavação arqueológica em Padova; era uma entrevista com a historiadora que estava coordenando a escavação.

Minha aluna contava, com uma entonação muito surpresa, o fato de que a historiadora estava com roupas simples, cabelo bagunçado e não se abalava, transmitia com muita segurança o que tinha para falar.

Essa mesma aluna, que já teve a maravilhosa chance de ir para a Itália, lembrou que em um dia em Pisa ela não aguentava mais de dor nos pés e saiu para passear de chinelos, calça e casaco. Nenhum italiano se importou e ninguém quis saber porque ela estava vestida daquele jeito.

E é aí que nos deparamos com a cultura italiana e um grande aprendizado que a Itália nos oferece: cada – um – cuida – da – sua – vida.

Parece que vemos, no dia a dia, aquele velho ditado do “nunca julgue um livro pela capa”. A maioria dos italianos não fica reparando na sua roupa e não quer saber sobre a sua vida.

O casaco etrusco.


Em Perugia eu tive aula com uma grande historiadora do período etrusco e ela passou o trimestre inteiro vestindo o mesmo casaco, usando a mesma bolsa e calçando as mesmas botas.

De novo: não há nada de errado em gostar de variar roupas, não há nada de errado em ter preferência por marcas. A questão aqui é: a cultura italiana é prática, a cultura italiana não dá relevância para suas roupas, a cultura italiana (principalmente aquela do Norte) tem um jeito de caminhar pela rua que é “cada um na sua e todo mundo entendendo que a liberdade de um acaba quando começa a liberdade do outro”.

Eu lembro que isso foi um dos primeiros choques positivos que tive na Itália, o fato de não precisar fazer um desfile de moda para mostrar que você é alguém no mundo.

Essa necessidade de trocar de roupa 5mil vezes por semana, principalmente em Florianópolis, é uma coisa que sempre me incomodou no Brasil. Parece que em Floripa as pessoas têm preconceito com alguém somente pelo fato de esse alguém não ter um guarda roupas gigantesco.

Novos hábitos depois da Itália.

Depois que eu voltei da Itália eu fiz questão de manter na minha vida muitos dos ensinamentos (diretos e indiretos) que aprendi por lá: uma delas foi a questão das roupas. Recentemente até fiz um processo para ter o mínimo de roupas possíveis e isso tem deixado a minha rotina muito mais prática, me permitindo ter agilidade no vestir e assim liberando tempo para eu dar atenção para outras coisas que são mais importantes para mim.

E também tive que me forçar a passar pelo processo de parar de me importar com o que os outros estão pensando sobre mim quando me veem com a mesma roupa dois dias seguidos. Principalmente no inverno, os italianos simplesmente não se importam com repetir roupas.

Outra coisa que a Itália me ensinou e que guardo sempre comigo é a liberdade para falar “NÃO”. E olhem só como isso faz sentido: aqui no Brasil se você convida alguém para sair e a pessoa simplesmente não quer ir, ela começa falar coisas do tipo “ai vou ver e depois te digo”, às vezes você fica esperando uma resposta e se frusta com isso, ou, ainda, perde tempo e deixa de marcar algo na esperança de que aquela pessoa te responda. É basicamente falta de respeito. Como os italianos evitam isso? Falando “não”, e está tudo bem, cada um segue na sua vida e, quando for possível, marcam EFETIVAMENTE um encontro.

Então voltemos à pergunta: por que viajamos? Por que vamos para a Itália?

Qual é o sentido em passar 12h no avião?

Claro que cada um significa a experiência de um jeito, mas eu acredito que viajar para a Itália signifique, dentre tantas outras razões, olhar para si e ter elementos para comparar com seus hábitos e, assim, refletir se você realmente acredita nisso ou se está apenas reproduzindo um hábito cultural sem refletir sobre ele. Essa é uma das potências que sentimos quando pisamos em um país com mais de 2mil anos de história.

E é por isso que preparamos nossos alunos com o ensino do idioma por meio da cultura, para que as diferenças culturais sejam fontes eternas de aprendizado.

E agora conta aqui: você já mudou a sua percepção sobre alguma coisa ou modificou seu modus operandi após uma viagem?

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